quarta-feira, 29 de julho de 2009

Produtores vs Distribuidores

Um dos assuntos ao qual tenho dedicado alguma reflexão nos últimos tempos é a relação entre Produtores e Distribuidores e que agora vem à baila por causa das manifestações feitas pelos agricultores do Baixo Mondego.

Não sei se já se aperceberam mas, de há algum tempo a esta parte, tem sido dado a conhecer, pela comunicação social, as preferências dos consumidores pelos produtos de marca branca ou pelos produtos cuja marca pertence exclusivamente ao hipermercado que a vende. Junto a este facto vem outro que diz respeito aos preços extremamente competitivos destes em comparação com um mesmo produto de outra marca. Para o consumidor é óptimo que assim seja, uma vez que tem à sua disposição um produto com alguma qualidade a um preço reduzido. Afinal de contas, é isto mesmo que todos nós procuramos: um produto com qualidade ao mais baixo preço.

No entanto, é importante saber e perceber como é que isto se consegue. Como é que é possível que um hipermercado consiga vender um produto com a sua marca a um preço muito mais baixo do que o produto de outra marca? Não é só o nome da marca que está em jogo. O segredo da coisa pode estar no acordo efectuado com os produtores que fornecem os produtos para esse hipermercado. Isto é bom porque, deste modo, os produtores asseguram o escoamento dos seus produtos. Se assim não fizessem, dificilmente conseguiriam vender os seus produtos.

O problema disto divide-se, basicamente, em duas questões:
  • Para conseguir preços altamente competitivos, muitos dos produtos à venda nos hipermercados são importados. Ao importar esses produtos, consegue-se, assim, oferecer produtos mais baratos. O consumidor agradece. Mas isto leva-nos ao outro lado da questão;
  • Os agricultores portugueses sofrem com isto, uma vez que os custos de produção são mais elevados do que em outros países. Porquê? Talvez devido a cargas fiscais, preços mais elevados dos combustíveis, poucos apoios, etc. Com custos de produção mais elevados, os produtores portugueses não conseguem competir com a concorrência dos outros países. O que podem eles fazer? Como eu ouvi há dias nas notícias, vender as máquinas e candidatarem-se ao Rendimento Mínimo Garantido.
Para Portugal, esta situação é gravíssima, uma vez que não se está a acautelar o sustento autónomo do país. Se um dia, por qualquer motivo, não conseguirmos importar os produtos que agora importamos, como vai ser? Por essa altura já não temos produtores, uma vez que eles sucumbiram todos à concorrência importada. Estamos em crise, é verdade, mas se não cuidarmos do nosso próprio sustento poderemos ficar numa situação bem preocupante. E não é coisa que aconteça só aos agricultores. Os pescadores vivem os mesmos dramas. Aqueles que arriscam a vida para nos trazer o que comemos são os que menos lucram! É impressionante a evolução que, por exemplo, o preço do peixe tem desde que sai das traineiras até chegar ao consumidor final! Não seria de extrema importância haver alguma entidade que controlasse a evolução dos preços nos vários intermediários? Eu acho que seria preferível os preços serem mais elevados à saída da linha de produção mas com uma evolução dos preços pelos diferentes intermediários numa percentagem mais reduzida, de modo a que isso não se reflectisse no preço final.

E já agora, para reflectir também, aqui ficam duas questões:

- O que acham desta campanha bem agressiva dos hipermercados Modelo/Continente?

- Com estes hipermercados a abrirem em tudo quanto é lado, haverá o risco de se estar a criar um monopólio?

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